sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

URSS

(Artigo de Dmitri Agranovski, publicado no jornal Soviétskaya Rossía, traduzido do russo por Íñigo Aguirre e do espanhol por Pedro Namora.)

URSS

No dia 18 de Novembro, foi publicada no jornal “Komsomólskaya Pravda” uma entrevista a Gorbatchov. Por questões de trabalho, vi-me na obrigação de a ler. Porém, não vamos começar por aí.
Começaremos pelo mais importante: no dia 30 de Dezembro de 1922, foi criada a União de Repúblicas Socialistas Soviéticas, a nossa grande, única, irrepetível e querida pátria. Tanto mais querida quanto, agora, depois de 23 anos, temos com que compará-la.

As estatísticas relacionadas com a URSS estão enterradas sob enormes capas de falácias, porque a propaganda oficial vê-se obrigada a esforçar-se ao máximo para explicar ao povo o quanto é maravilhoso terem-lhe arrebatado o Estado, o futuro, todas as poupanças conseguidas com enorme esforço, ao mesmo tempo que o despojavam de todos os direitos e de qualquer possibilidade de mudar alguma coisa.

Muitos mentem porque servem a classe dos “eficazes proprietários”, dos que saíram muito beneficiados da catástrofe russa. Outros mentem apenas por inércia, por medo da realidade. É duro reconhecer que tu mesmo, com as tuas próprias mãos e com a ajuda dos inimigos declarados do teu país, destruíste a pátria e privaste os teus filhos de futuro.

De um modo ou outro, são muitas as coisas evidentes agora, que passaram já 23 anos trágicos e sem sentido, de um tempo histórico perdido. Em 1985, o último ano antes da guerra (já que a “perestroika”, como agora sabemos, era um tipo de guerra), à URSS correspondia mais de 20% da produção industrial mundial. O Produto Nacional Bruto representava 66% do dos Estados Unidos. Agora, o da Rússia, corresponde a 2%. Ou, melhor dito, correspondia, porque em 2015 será claramente inferior.

Em 1985, Gorbatchov recebeu um país absolutamente tranquilo, estável, uma superpotência segura das suas forças, a que correspondia 20% da produção industrial mundial. Segundo a maioria absoluta de parâmetros, a URSS ocupava o segundo ou o primeiro lugar no mundo. Ao nível da segurança, em todas as suas variantes, sem dúvida ocupava o primeiro. Pelos seus níveis de desenvolvimento científico, educativo, cultural, estava em primeiro lugar. No terreno militar, nem à União Soviética, nem ao mais pequeno e distante dos nossos aliados, algo o ameaçava.

A produção e a população, incluído a russa, cresciam de modo estável.

E a este país, com ajuda da “perestroika”, havia que, partindo do nada, fazê-lo soçobrar, incendiá-lo, converte-lo num campo selvagem, entregá-lo para que o saqueassem e fosse presa de pilhagem.

Em 1985, os tempos de crescimento da já por si enorme economia da URSS eram de cerca de 3,9% ao ano, e, em geral, de 1950 a 1988 a renda per capita crescia ao dobro da velocidade dos EUA, sendo que a jornada laboral se tinha reduzido das 48 horas para 40 horas.

É evidente que no ano 2000 a URSS ocuparia o primeiro lugar do mundo na maioria dos indicadores, pelo que os EUA contavam com um tempo histórico muito curto parra assestar o golpe.

Segundo o meu ponto de vista, Gorbatchov é o mais lamentável e mais terrível dos governantes na história da Rússia. Para receber a segunda – e em muitos sentidos a primeira – potência do mundo e deixar atrás de si 15 pedaços sanguinolentos, sem nenhuma esperança de desenvolvimento, é preciso mais do que má-fé. É preciso ser-se muito, mas muito torpe.

E agora, enquanto leio a sua entrevista, não vejo o mais pequeno sinal de remorso, a começar pelo título: “ Não temos a quem culpar, fomos nós quem enterrou a URSS”. Pois nós temos. E acusamo-lo, Gorbatchov.  

Se a uma pessoa lhe for desferido um tiro na cabeça, o mais provável é que morra. Mas não se tratará de uma enfermidade, mas de um assassinato. Foi o que se passou precisamente com a União Soviética. Assassinaram-na. Despacharam-na na flor da vida, quando a nossa gente havia começado a viver bem, com segurança e com um nível de vida, segundo os padrões internacionais, mais que digno.

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